Video- 0:44 min No passado mês de Outubro, vi esta gaivota juvenil que se destacava dos outros pela excessiva pigmentação escura das suas penas. Podemos concluir, com segurança, que esta ave pertence à espécie Larus fuscus. Após uma demorada observação e dado que este ano vi muitas gaivotas juvenis desta espécie, pensei em verificar as eventuais divergências na plumagem, na cor das patas e do bico, das aves nascidas em 2016, mas em diferentes latitudes. Logicamente que as diferenças não poderiam ser significativas. Ainda assim, quero partilhar convosco este trabalho expondo aqui fotos de indivíduos nascidos em 10 regiões europeias diferentes.
Na
Holanda:
Roland-Jan Buijs; H.
Keijser;M.
Loeve; Leo Snellink
Em
Espanha:
Miguel
Moreno; José Sánchez; Rafael Palomo; Robert Locusse
Em
Portugal:
Michael
Davis; José
Marques
Locais de registo
Curiosidades
migratórias:
-
Os únicos registos em Portugal aconteceram no mês de Outubro, em
2015 no sul (Algarve) e em 2016 no norte (Matosinhos);
-
Todos as observações registadas em Espanha foram no porto de Caleta
de Vélez na Província de Málaga;
-
A constância dos registos mensais permitem concluir que esta ave
deve passar o inverno na Andaluzia (sul de Espanha);
-
Os
dois registos em Portugal parece indiciar que a rota tomada entre o
locar de invernação/reprodução é feita pela costa Atlântica da
Península Ibérica (?);
-
Parece claro que esta ave, todos os anos, regressa ao local de
nascimento.
Portugal recebe todos os anos milhares de Corvos-marinhos-de-faces-brancas (Phalacrocorax carbo)que aqui encontram condições de sobrevivência no Inverno e preparam o ciclo seguinte, o da reprodução.
Provavelmente devido ao aumento do habitat disponível e sobretudo ao crescimento das populações no centro e norte europeus, a população invernante no país tem vindo a aumentar de forma continuada nos últimos 30 anos.
Localmente, vamos verificado o aumento da população invernante no estuário do rio Douro e particularmente, a colónia de cerca de meia centena (2016) de aves que inverna dentro da área do Porto de Leixões.
Aqui, não vai faltando peixe e o alimento dos Corvos-marinhos é sobretudo a tainha (Mugil cephalus) e a cavala (Scomber scombrus) que capturam sem concorrentes, a não ser algumas gaivotas famintas que tentam roubar o peixe no momento em que a ave vêm à superfície para o engolir.
Embora sabendo que a maioria das aves que invernam em Portugal sejam oriundas de países que marginam o Mar do Norte, (ver mensagem anterior) sempre tive curiosidade de saber a proveniência das aves que invernam em Matosinhos.
Este ano observei na colónia duas aves portadoras de anilhas metálicas. Com alguma dificuldade, consegui tirar algumas fotos que me permitiram registar a sua origem.
Descobri que uma delas foi anilhada na Dinamarca mas ainda não consegui obter o numero da anilha.
A outra é este individuo finlandês que voou mais de 3000 quilómetros para chegar até aqui.
Aqui ficam alguns elementos do histórico desta ave:
Espécie: Phalacrocorax carbo
Anilha metalica: MM41210
Anilhador: Juha Pikkarainen (University of Helsinki)
Por cortesia de Juha Pikkarainen (Ringer), posso partilhar duas fotografias tiradas em Maio que mostram o ambientereservado onde nidifica a colónia de Vaasa.
Depois que se esgotou a cota de pesca de sardinha do ano, é notória a redução da população de gaivotas no Porto de Leixões, principalmente o numero de aves migratórias que, na ausência de comida em quantidade, rumam a outras paragens. Não fosse a enorme colónia de Gaivotas-de-patas-amarelas (Larus michahellis) residente e a população de gaivotas seria, significativamente, mais reduzida.
Todavia, nem tudo é mau. Esta calmaria dentro do porto permite apreciar melhor alguns pormenores de algumas aves e dar mais atenção a outras espécies que, normalmente, não encontramos por aqui com anilhas coloridas.
Permite ainda, se as condições de luz forem favoráveis, obter fotografias não possíveis de conseguir nos dias de actividade intensa nos cais de atracagem dos barcos de pesca.
O reduzido numero de aves anilhadas, permitiu que esta semana eu dedicasse um dia a espécies invernantes, principalmente, a dois espécimes bastante díspares, embora sendo ambas Larídeos.
As espécies em causa foram o Gaivotão-real (Larus marinus) que é a maior gaivota do mundo e o Guincho-comum (Larus ridibundus) que é uma das mais pequenas da família.
Gaivotão-real (Larus marinus)
Embora se misture frequentemente com outras gaivotas distingue-se pelo seu grande porte.
Invernante raro em Portugal, é uma espécie costeira que se encontra sobretudo no litoral norte sendo menos frequente no sul do país.
A sua observação ocorre normalmente isolada ou em pares e, raramente, em grupos superiores a três aves.
O melhor período para a observação destas aves em Portugal é entre Novembro e Fevereiro.
Estatuto em Portugal Continental: Invernante, Pouco comum
em Dezembro
em Março
Guincho-comum (Larus ridibundus)
Esta espécie ocorre em Portugal como invernante e pode ser observado entre Julho e Março.
É uma gaivota relativamente pequena muito abundante em Portugal embora não cative muita atenção dos birdwatchers. Todavia quem observar esta espécie ao longo do ano, notará que as aves se tornam mais atraentes a partir de Março, quando os adultos ficam com o capuz cor de chocolate.
Estatuto em Portugal Continental: Invernante, Muito abundante.
A praia da Torreira fica situada no cordão litoral que separa a Ria de Aveiro do Oceano Atlântico.
Inserida num enorme areal que se estende sem interrupção por cerca de 25 km desde a Reserva Natural das Dunas de São Jacinto, a sul, e o Furadouro, a norte, esta praia conserva ainda a tradição da pesca artesanal (Arte Xávega), num vai e vem de barcos de madeira coloridos em forma de meia-lua e a azafama das pessoas no areal.
Este método de pescar na costa portuguesa remonta à ocupação árabe da Península Ibérica (711-1031) e a palavra "xávega" provém do vocábulo árabe xábaka que significa rede.
A xávegaé uma pesca artesanalfeita com rede de cercoe o seu equipamento é composto de um longo cabo com duas bóias flutuadoras, tendo na sua metade de comprimento um saco de rede em forma cónica (xalavar).
O “xalavar” é colocado no mar, longe da costa por uma embarcação, que vai desenrolando a metade do cabo, ficando uma das pontas amarrada a um dos dois tractores intervenientes. Os pescadores efectuam o cerco aos cardumes de peixe em alto mar e retornam à praia desenrolando a outra metade do cabo para a sua extremidade ser enrolada pelo segundo tractor.
Antigamente a recolha era feita com a ajuda de juntas de bois e força braçal, actualmente por tracção mecânica de dois tractores que recolhem os cabos até a rede chegar com o peixe a terra.
A xávega termina com a chegada ao areal e abertura do xalavar que contém a pescaria.
Embora seja ainda um método de pesca usado em algumas comunidades piscatórias em Portugal, a Arte Xávega é uma tradição que, de ano para ano, se vai perdendo no país, sendo exemplo a Nazaré onde se fazem recriações destinadas aos turistas.
Este método de pesca acaba por arrastar no saco alguns espécimes sem valor comercial que são devolvidos ao mar ou acabam por servir de alimento às gaivotas.
Video - 2:26 min
Para Novembro estava um dia excepcional, mais parecia que estava no principio do Verão, sem banhistas e com comida, as gaivotas aos milhares cobriam a praia com um manto branco salpicado a negro.
Não fosse o facto de as gaivotas fugirem voando para longe, quando eu me aproximava delas, teria sido um dia excepcional para o registo de aves anilhadas. Eu estou habituado a andar no areal das praias de Matosinhos pelo meio das gaivotas que repousam no areal e elas, simplesmente, se deslocam para eu não as pisar e essa foi a surpresa que eu tive porque aqui fogem alarmadas quando eu estava a menos de 15 metros. Talvez, presumo eu, se deva ao facto de em Matosinhos a espécie mais abundante ser a Gaivota-de-patas-amarelas (Larus michahellis), mais calmas e mais habituadas aos humanos, criando assim um ambiente mais sossegado e na Torreira a predominância era de Gaivotas-d'asa-escura (Larus fuscus) espécie invernante menos humanizada.
Ainda assim, registei 36 indivíduos com anilhas coloridas, todas da espécie Gaivotas-d'asa-escura (Larus fuscus), inclusive as anilhadas em Portugal por Centros de reabilitação.
As gaivotas registadas são originárias de nove países:
Alemanha – 2
Bélgica – 2
Dinamarca – 1
Escócia – 4
França – 2
Guernsey – 13
Holanda – 5
Inglaterra – 5
Portugal – 2
Pelos motivos que anteriormente relatei e apesar da qualidade de luz ser óptima, não havia condições para obter boas fotografias de gaivotas. Todavia, não quero deixar de partilhar uma foto por país emissor.