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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Guernsey Gulls [1]


Larus fuscus

As Ilhas do Canal, Guernsey, Alderney, Sark, Herm e Jethou incluindo rochedos e ilhéus associados formam o Bailiado de Guernsey.
Ilha de Burhou

Paul Veron é desde 2008 o grande impulsionador para a investigação com gaivotas no território de Guernsey no sentido de reunir dados para avaliar aspectos da ecologia da reprodução e da migração das aves nidificantes no arquipélago.

Paul Veron anilhando crias de gaivotas em Sark 

Os trabalhos em Guernsey desenvolvem-se focados principalmente em três espécies:
- Gaivotão-real (Larus marinus)
- Gaivota-argêntea (Larus argentatus)
- Gaivota-de-asa-escura (Larus fuscus)

Desde o inicio do projecto, no verão de 2008, até ao ano de 2014, foram anilhadas no arquipélago 11.614 gaivotas, colocando este projecto num dos mais importantes da Europa ocidental.
No último triénio foram anilhadas no arquipélago 6672 aves, assim distribuídas:

Gaivotas anilhadas com anilhas coloridas (2012 a 2014)
Espécie
2012
2013
2014
Total
- Larus fuscus
872
762
744
2378
- Larus marinus
51
80
77
208
- Larus argentatus
1037
1759
1290
4086
Totais
1960
2601
2111
6672

Nas minhas observações de Janeiro a Outubro de 2015, localizadas na costa atlântica de Matosinhos, registei 83 indivíduos num total de 199 observações de aves anilhadas em Guernsey.
Curiosamente, apenas observei indivíduos da espécie Larus fuscus e dos 83 indivíduos registados, apenas 4 tinham anilhas anteriores a 2010.

Larus fuscus - Observações mensais em Matosinhos
Indivíduos registados - 83
Meses
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Total
Observadas
17
3
22
14
0
7
6
8
81
41
199
Nota: Em Maio não há registos apenas porque eu não fiz observação nesse mês.

A analise do quadro anterior permite concluir que, embora com maior predominância nos meses de Outono/Inverno, as aves de Guernsey permanecem em Matosinhos durante todo o ano.

Algumas, como o caso da juvenil “N[1CS9]”, permaneceu aqui durante todo o ano de 2015 (observada 15 vezes). Anilhada em Burhou, Alderney como pinto em 19.07.2014

Em Dezembro.2014

Em Outubro.2015

A veterana N[4AX5], com 10 observações, é uma “habitual” em Matosinhos e é também a ave mais idosa registada.
Anilhada como adulta em Ty Coed,Vale Marais,Guernsey, em 17.05.2006.

Em Janeiro.2015     

Em Outubro.2015   

Como referi anteriormente, de Guernsey, apenas tenho observado gaivotas da espécie Larus fuscus. Isso deve-se ao facto de as outras duas espécies serem invernantes pouco frequentes. Aliás, a Larus argentatus é mesmo reconhecida como raridade em Portugal. Todavia, embora em numero substancialmente mais reduzido, algumas aves destas espécies visitam Portugal, conforme podemos constatar nos vários relatórios de actividade de Guernsey .

Para destacar a importância deste Centro Emissor posso referir que nas minhas observações em Matosinhos, no ano de 2015, as aves provenientes de Guernsey representam 25% do total das aves registadas.

Já é tão vulgar encontrar em Matosinhos aves anilhadas em Guernsey que quando vou com o meu amigo Inocêncio Oliveira observar gaivotas e um de nós vê uma anilha preta, logo dizemos:
- É mais uma do Veron!... 




quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Aves da Islândia (1)

Na passada sexta-feira, dia 20, fui de manhã observar gaivotas.
A praia de Matosinhos é o “grande dormitório” da enorme colónia de Larus michahellis residente e claro, onde podemos encontrar também muitas aves que por aqui passam na sua rota migratória ou que aqui ficam para invernar.
Como habitualmente, comecei manhã cedo fazendo os meus registo antes que cheguem os cães, ou melhor, os donos dos cães armados em espantalhos divertindo-se a espantar as gaivotas do areal. Enfim!...


Entre as aves anilhadas observadas destaco a Larus fuscus com a anilha B[YM23] que pela primeira vez, este ano, tem registos de observação em Matosinhos.


Anilha: YM23
Espécie. Gaivota-de-asa-escura (Larus fuscus)
Origem: Sandgerði no sul da Islândia
Anilhagem : Esta ave foi anilhada já adulta, em Maio de 2010

É conhecido um percurso migratório bastante interessante, vejamos os registos de observação;
- 05.2010 – Anilhada em Sandgerði, Islândia;
- 10.2010 – Monte Gordo, Portugal;
- 11.2011 – Matosinhos, Portugal;
- 12.2012 – Praia de Duncannon, Wexford, Irlanda;
- 11.2013 – Quarteira, Portugal;
- 12-2014 – Eirol, Aveiro,Portugal;
- 03.2015 – Estuário de Hayle, Cornwall, Inglaterra, e
- 11-2015 – Matosinhos, Portugal.

A soma entre estes pontos de registos são 9.059 kms (!)


No final da manhã fui ao interior do Porto de Leixões ver se via alguma novidade.
Estava tudo muito calmo porque os barcos da sardinha já não vão à pesca por terem esgotado a quota pesqueira.
Este ambiente calmo permitiu que eu reparasse que no pequeno grupo de Rolas-do-mar (Arenaria interpres) havia uma ave com uma anilha metálica. Aproximei-me e consegui tirar algumas fotos focadas na anilha. As fotos permitiram, posteriormente, ler a matricula da anilha.

M[781477]

Anilha: 781477
Espécie: Rola-do-mar (Arenaria interpres)
Origem: Garðskagi, Islândia
Anilhagem : Esta ave foi anilhada já adulta, em Maio de 2014
Histórico: Este é o primeiro registo fora da Islândia

2.701 kms = distância de Garðskagi a Matosinhos, em linha reta.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Great Cormorant

Corvo-marinho

De Setembro a Abril é vulgar observar no Porto de Leixões e ao largo das praias de Matosinhos pequenos grupos de Corvos-marinhos a pescar e na praia de Angeiras é também normal encontrar esta espécie no areal misturados com gaivotas.
É uma ave de hábitos solitários, mas pode ser encontrada em grandes bandos em zonas ricas de alimento, como acontece no estuário do rio Douro onde invernam centenas de Corvos-marinhos-de-faces-brancas (Phalacrocorax carbo).
Parte da população invernante no nosso país deverá ter origem nos países banhados pelo Mar do Norte.
Os corvos-marinhos alimentam-se principalmente de peixes que pesca em mergulho, consumindo também anfíbios, crustáceos e moluscos.

Para poder voar mais facilmente, após cada período de pesca descansa com as asas abertas ao sol de modo a secar as penas, que não são impermeáveis.

Porto de Leixões – Outubro.2015

Os corvos-marinhos propagam-se em todos os continentes à excepção da América do Sul e da Antárctida e habitam principalmente zonas costeiras embora possa ser encontrado em lagos interiores, áreas pantanosas e em barragens. Normalmente não frequenta o mar aberto, podendo aí ocorrer excepcionalmente.
As populações que nidificam no norte e no centro europeus invernam sobretudo nos países do sul da Europa, tanto na costa atlântica como na mediterrânica (BirdLife International,2014).


Praia de Angeiras – Janeiro.2015

São reconhecidas 5 subespécies:
- P. c. carbo - Atlântico norte
- P. c. sinensis - Ásia (até ao Japão e ao Sri Lanka) e Europa* (centro e sul),
- P. c. maroccanus - África (noroeste)
- P. c. lucidus – África (oriental e do sul)
- P. c. novaehollandiae - Nova Guiné, Austrália e Nova Zelândia
* Existe uma polémica interessante acerca da hipótese desta subespécie ter sido introduzida na Idade Média pelos holandeses da China para a Holanda para utilização na pesca artesanal de uma forma análoga à caça com falcões. A confirmar-se esta teoria, teríamos de admitir que os sinensis na Europa seriam uma espécie exótica invasora e portanto uma ameaça para a ictiofauna e biodiversidade no continente (!). Actualmente é um facto bem conhecido que o numero de sinensis na Europa eleva-se a vários milhões de indivíduos. 


Sabemos da existência de corvos-marinhos em quase todos os continentes com características genéticas e morfológicas similares.
O mais fascinante, para mim, é haver uma espécie muito peculiar cuja existência está circunscrita às ilhas Isabela e Fernandina do Arquipelago das Galápagos.
Trata-se de uma espécie nativa das Galápagos e é o único corvo-marinho que não voa. O cormorão-das-galápagos (Phalacrocorax harrisi).


Foto de Fábio Paschoal

O arquipélago de Galápagos foi formado por vulcões há mais de 5 milhões de anos e colonizado por diferentes espécies de aves vindas do continente, provavelmente desviadas da sua rota por tempestades. Entres essas espécies estavam os corvos-marinhos, aves que perderam o voo após milhões de anos de evolução.
- Como foi que isso aconteceu?
Os corvos-marinhos possuem patas com membranas interdigitais que aumentam a superfície de contacto e fornecem uma força extra para nadar submerso. Para ganhar forma mais aerodinâmica, as aves fecham as asas cessando a sua utilização enquanto perseguem uma presa. As aves existentes no continente ainda mantêm a destreza de voo para se deslocar e para escapar aos seus predadores. Todavia, devido ao seu peso, gasta muita energia no voo e as aves não fazem grandes viagens pelos céus se for seguro ficar no chão, principalmente em ilhas onde os ventos as podem levar para bem longe no oceano.
Como os predadores que os poderiam ameaçar não conseguiram chegar às Galapagos, então o melhor seria manter os pés no chão.
Enquanto as gerações se sucediam, sem a necessidade de voar, as asas foram diminuindo gradualmente até que surgiu uma nova espécie, o Comorão-das-galápagos. Actualmente, as pequenas asas que eles abrem para secar após uma pescaria são tão diminutas, relativamente ao seu tamanho, que certamente os não suportariam no ar.

O naturalista Darwin, no seu livro A Origem das Espécies, escreveu sobre as consequências do uso e desuso das asas em populações de insectos localizados em ilhas que tendem a perder o voo.
Darwin atribuiu essa perda à Selecção Natural e concluiu: "Eu acredito que a perda quase total da capacidade de voar de inúmeras espécies de aves, que agora residem ou colonizaram recentemente ilhas oceânicas, sem ameaça de nenhum predador, foi causada pelo desuso."
Ele ficaria maravilhado ao ver o Comorão-das-galápagos de hoje!
A sua população nunca foi muito elevada, devido à sua distribuição geográfica restrita, mas manteve-se em equilíbrio até à colonização do arquipélago pelo Homem.
Após a colonização das ilhas por seres humanos e seus animais domésticos, a pesca predatória e devido às mudanças climatéricas que aumentam a temperatura dos oceanos e diminuem as quantidades de alimento disponível, colocam o Comorão-das-galápagos no rol das espécies vulneráveis da Lista Vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza).

Em 1999 a população nas duas ilhas era de cerca de 900 indivíduos.

 

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Larus fuscus intermedius


Anilha - 4LJ4LU   

Macho anilhado pinto na ilha Udvare, Lindesnes, Vest-Agder, Noruega em 27.06.1991
Anilhador: Finn Jørgensen (Centro de anilhagem do Stavanger Museum-Noruega)
Local da observação: Praia de Matosinhos, Matosinhos, Portugal em 05.09.2015


Algumas curiosidades sobre a história desta ave:

- Durante os seus 24 anos de vida foi observado 22 vezes (1991,2008,2010,2011,2012,2013,2014,2015);
- Os avistamentos na Noruega foram todos registados entre Abril e Agosto;
- A observação em Matosinhos, é a primeira e única registada fora da Noruega;
- A distância percorrida na rota entre a ilha de Udvare e Matosinhos, são 2182 kms (em linha recta).

Larus fuscus intermedius

Udvare > Matosinhos = 2182 kms


quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Peter Rock em Matosinhos

Matosinhos é um sitio muito interessante para observar gaivotas, graças aos portos pesqueiros (Angeiras e Leixões) e às suas praia de longos areais.
Existe aqui uma boa “equipe” de observadores locais e somos visitados por entusiastas estrangeiros que seguem a rota tomada por muitas gaivotas que imigram do norte da Europa rumo ao sul do continente e ao norte de África para invernar.
Por essa razão, no principio desta semana tivemos em Matosinhos a visita habitual do ilustre Peter Rock.
Não preciso de fazer a sua apresentação porque todos conhecem o “Senhor das Gaivotas”. Todavia, como a ele se deve a invenção do sistema de anilhas de leitura à distancia (anilhas coloridas com código), eu o considere mais o “The Lord of the Rings”.
Ele teve azar com a data que escolheu para nos visitar porque havia muito poucas gaivotas na costa. Presumo que, como tem estado temporal, as gaivotas estejam mais para o interior do continente por falta de comida na costa. Em Leixões isso é notório porque acabou a quota de pesca de sardinha e claro, não há peixe não há gaivotas!

De qualquer modo estes dois dias na companhia do Peter Rock e do Inocêncio Oliveira não deram para registar muitas observações mas serviram para conviver um pouco e reforçar os laços de amizade.

José Marques-Peter Rock-Inocêncio Oliveira

A observação mais interessante foi a de um Gaivotão-real que tinha apenas a anilha metálica que, felizmente, deu para ler a inscrição.

Larus marinus - MA06067


-  Anilha metalica - MA06067

-  Esta ave foi anilhada ainda pinto por Bardsey BO (BTO) em 04.06.2006 em Ynys Gwylan Islands, Gwynedd, Reino Unido
-  Local da observação: Praia do Carneiro junto à foz do Rio Douro, Porto, Portugal em 02.11.2015


Ynys Gwylan Islands > Porto = 1.328 kms

C 61-74 cm, ENV 144-166 cm
Reproduz-se no Norte da Europa ao longo da costa, isolado ou em pequenas colónias e, localmente, em grandes lagos. Geralmente constrói ninho em locais elevados, em ilhas rochosas.
Alimenta-se de peixe, restos, aves; cleptoparasita, rouba os alimentos a outras aves.

Estatuto em Portugal:
- Invernante pouco comum.
Gaivota de grande porte, pode ser encontrada com alguma regularidade, sobretudo na metade norte do litoral português.