A Cagarra nas Ilhas Berlengas
Cagarra (pinto)
No 36º aniversário da Reserva Natural das Berlengas, em 3 de Setembro, fui convidado pela SPEA-Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves para participar numa visita à Ilha. Do programa constavam passeios por terra e mar, informação sobre as actividades desenvolvidas no arquipélago relacionadas com o Projecto Life e uma visita à colónia de cagarras.
O elefante
Venho acompanhando os trabalhos desenvolvidos na ilha relacionados com a
erradicação de plantas e animais nocivas às espécies que se
pretende preservar, confesso que já estive para visitar as Berlengas
mas, por duas vezes, o mau tempo me impediu de fazer a viagem de
barco.
Agora, embora
tivesse que percorrer mais de 500 kms num dia, aceitei o convite da
SPEA motivado pela oportunidade de visitar colónia de cagarras.
É desse dia
excepcional que hoje venho relatar, por texto e imagens, essa
interessante experiência.
Dado que a
cagarra é uma ave essencialmente pelágica, era sabido que
eventualmente só as iríamos ver no mar durante a viagem para a ilha
porque elas só regressam a terra durante a noite para alimentar as
crias.
Na visita à
colónia pude constatar o excelente trabalho desenvolvido na
construção e reposição de ninhos no sentido de preservar e
procurar aumentar a colónia no arquipélago.
Algumas zonas da
colónia são monitorizadas por câmaras e existe um ninho com uma
câmara ligada permanentemente para acompanhar a evolução da cria.
Até meados de
Outubro, altura em que sairá do ninho, é possível acompanhar no
“ninho-ao-vivo” as imagens, em tempo real, mostrando o crescimento e os cuidados
parentais de uma cria nascida no dia 7 de Julho.
Infelizmente a
jovem cagarra já vai dejectar na direcção da saída do ninho e, de
vez em quando, acerta na objectiva e fica uma imagem “borrada”
até que a limpem.
Outros dados
sobre a CAGARRA (Calonectris borealis) em Portugal:
A cagarra
reproduz-se em colónias em praticamente todas as ilhas e ilhéus dos
arquipélagos das Berlengas, dos Açores e da Madeira e é
provavelmente a ave marinha que nidifica em Portugal que existe em
maior abundância.
Censos realizados
entre 2005 e 2012 nas Berlengas, ilha do Corvo (Açores) e na
Selvagem Grande estimaram uma população superior a 50.000 casais
nestas ilhas.
Não existem
estimativas precisas para as restantes ilhas dos Açores, da Madeira,
das Desertas e do Porto Santo. Graças às medidas de
conservação realizadas nas Berlengas, a população reprodutora
cresceu 10,1% ao ano no mesmo período.
Mais recentemente
e segundo resultados obtidos na “Campanha SOS Cagarra a população nidificante açoriana representa 75% da população
mundial da subespécie "Calonectris
diomedea borealis" e
65% da espécie Calonectris
diomedea sendo a ave
marinha mais abundante nos Açores, totalizando nesse ano cerca de
188.000 casais reprodutores.
A área de
distribuição no território português permanece estável há mais
de um século.
O ARQUIPÉLAGO
DAS BERLENGAS/Reserva Natural das Berlengas
O arquipélago é
composto pelas ilhas graníticas da Berlenga Grande, Estrelas e
Farilhões fica situado a cerca de 6 milhas a oeste do Cabo Carvoeiro
em Peniche.
A Berlenga
Grande foi a primeira área protegida do país quando o Rei Afonso V
de Portugal em 1465 proibiu a caça na ilha.
Logo-RNB
Criada em 1981 a
Reserva Natural das Berlengas compreende uma área muito vasta de
reserva marinha situada na envolvente do arquipélago e desde Junho
de 2011 é considerada Reserva Mundial da Biosfera da UNESCO.
Além
da cagarra nidificam ainda outras aves marinhas no arquipélago , a
Galheta (Phalacrocorax
aristotelis),
o Roquinho (Oceanodroma
castro) e a Gaivota-de-patas-amarelas(Larus
michahellis).
O
Airo (Uria
aalge)
por
ser a ave mais emblemática das Berlengas -porque era aqui o único
local em Portugal onde nidificava- foi adotada
como símbolo da Reserva Natural. O
Airo nidificava em grandes números na Ilha da
Berlenga. Todavia, a população reprodutora sofreu um declínio
populacional vertiginoso na segunda metade do século XX.
De
tal modo que dos 6000 casais estimados em 1939, em 1977 foram
contados apenas 320 aves adultas na Ilha da Berlenga, numero que
baixou para 70, em 1981.
A
população tem vindo a diminuir e em 2002 registou-se o último caso
de nidificação conhecido, admitindo-se agora que o Airo poderá
estar extinta como reprodutora na ilha.
Sempre
condicionados à disponibilidade dos barcos que fazem a viagem de
travessia de Peniche para a Berlenga Grande, a ilha pode ser visitada
de Junho a Setembro.
O Life Berlengas
vai contribuir para a gestão sustentável da Zona de Protecção Especial (ZPE) das Berlengas, com o objectivo de conservar os seus
habitats, plantas endémicas e populações de aves marinhas. Com
este projecto pretende-se compreender as principais ameaças que afectam os valores naturais das Berlengas, em terra e no mar, e
definir estratégias para as minimizar e erradicar.
Armeria
berlengensis-endémica da Berlenga
Lagartixa
de Carbonell Podarcis carbonelli berlengensis, endémica das
Berlengas
Grutas naturais
O Grupo
Agradecimento:
Á SPEA pelo convite e aos técnicos pela agradável companhia e excelente trabalho desenvolvido com o grupo de visitantes.
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