sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Seagulls on Torreira Beach



A praia da Torreira fica situada no cordão litoral que separa a Ria de Aveiro do Oceano Atlântico.
Inserida num enorme areal que se estende sem interrupção por cerca de 25 km desde a Reserva Natural das Dunas de São Jacinto, a sul, e o Furadouro, a norte, esta praia conserva ainda a tradição da pesca artesanal (Arte Xávega), num vai e vem de barcos de madeira coloridos em forma de meia-lua e a azafama das pessoas no areal.
Este método de pescar na costa portuguesa remonta à ocupação árabe da Península Ibérica (711-1031) e a palavra "xávega" provém do vocábulo árabe xábaka que significa rede.
A xávega é uma pesca artesanal feita com rede de cerco e o seu equipamento é composto de um longo cabo com duas bóias flutuadoras, tendo na sua metade de comprimento um saco de rede em forma cónica (xalavar).
O “xalavar” é colocado no mar, longe da costa por uma embarcação, que vai desenrolando a metade do cabo, ficando uma das pontas amarrada a um dos dois tractores intervenientes. Os pescadores efectuam o cerco aos cardumes de peixe em alto mar e retornam à praia desenrolando a outra metade do cabo para a sua extremidade ser enrolada pelo segundo tractor.
Antigamente a recolha era feita com a ajuda de juntas de bois e força braçal, actualmente por tracção mecânica de dois tractores que recolhem os cabos até a rede chegar com o peixe a terra.
A xávega termina com a chegada ao areal e abertura do xalavar que contém a pescaria.
Embora seja ainda um método de pesca usado em algumas comunidades piscatórias em Portugal, a Arte Xávega é uma tradição que, de ano para ano, se vai perdendo no país, sendo exemplo a Nazaré onde se fazem recriações destinadas aos turistas.

Este método de pesca acaba por arrastar no saco alguns espécimes sem valor comercial que são devolvidos ao mar ou acabam por servir de alimento às gaivotas.


                                                                      Video - 2:26 min


Para Novembro estava um dia excepcional, mais parecia que estava no principio do Verão, sem banhistas e com comida, as gaivotas aos milhares cobriam a praia com um manto branco salpicado a negro.
Não fosse o facto de as gaivotas fugirem voando para longe, quando eu me aproximava delas, teria sido um dia excepcional para o registo de aves anilhadas. Eu estou habituado a andar no areal das praias de Matosinhos pelo meio das gaivotas que repousam no areal e elas, simplesmente, se deslocam para eu não as pisar e essa foi a surpresa que eu tive porque aqui fogem alarmadas quando eu estava a menos de 15 metros. Talvez, presumo eu, se deva ao facto de em Matosinhos a espécie mais abundante ser a Gaivota-de-patas-amarelas (Larus michahellis), mais calmas e mais habituadas aos humanos, criando assim um ambiente mais sossegado e na Torreira a predominância era de Gaivotas-d'asa-escura (Larus fuscus) espécie invernante menos humanizada.
Ainda assim, registei 36 indivíduos com anilhas coloridas, todas da espécie Gaivotas-d'asa-escura (Larus fuscus), inclusive as anilhadas em Portugal por Centros de reabilitação.

As gaivotas registadas são originárias de nove países:

Alemanha – 2
Bélgica – 2
Dinamarca – 1
Escócia – 4
França – 2
Guernsey – 13
Holanda – 5
Inglaterra – 5
Portugal – 2

Pelos motivos que anteriormente relatei e apesar da qualidade de luz ser óptima, não havia condições para obter boas fotografias de gaivotas. Todavia, não quero deixar de partilhar uma foto por país emissor.


                  G[CF]-Holland




Y[4C2B]-England


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segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Marie, a Belgian seagull!


- Anilha: B[RZA.C]
- Observada na Praia de Matosinhos , na manhã de 25.10.2016.

Distância entre Zeebrugge e Matosinhos: 1450 kms (em linha recta)

Esta gaivota foi anilhada, já adulta, em Zeebrugge, Bruges, na Região Ocidental da Flandres, em Maio de 2012 pela equipe do INBO-Instituutvoor Natuur- en Bosonderzoek  liderada por Eric Stienen, Dr  que lhe deu o nome "Marie".
Em 2014 foi recapturada e equipada com um aparelho de GPS para o estudo do percurso migratório utilizado por esta ave.
Na época da reprodução de 2015, quando voltou para a colónia em Zeebrugge, foi feita a leitura do GPS com o resultado registado na imagem do mapa abaixo reproduzido que mostra o percurso percorrido no Inverno 2014-2015.

Em 2016 não voltou a Zeebrugge (ou não foi detectada) pelo que não foi realizada qualquer leitura do GPS após a do Inverno anterior.

                  Quadro de observações anuais
ANO
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
*
2012




3
2
1





6
2013


1
2
5







8
2014



4
6







10
2015



1
5







6
2016









1


1
Zeebrugge
Matosinhos
* Numero de observações anuais registadas
Observadores:
Na Bélgica: Eric Stienen; Marc Van de Walle; Hans Matheve; Simon Feys; Harry Vercruijsse; Billy Herman; Hilbran Verstraete;
Em Portugal: José Marques

Curiosidades:
- A leitura do registo GPS no mapa, mostra que percorreu a rota migratória pela costa atlântica e pelo interior da Península Ibérica;
- A grande mancha registada no sul de Espanha parece indiciar que ali permaneceu grande parte desse inverno;
- O quadro dos avistamento mostra que a minha observação visual em 2016, curiosamente também, é a única observação registada fora de Zeebrugge.


Agradecimentos:
- A Eric Stienen e Marc Van de Walle pela documentação, informação e apoio concedios.

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sábado, 5 de novembro de 2016

Urbangulls vs Peter Rock





Em plena época de migração para sul das gaivotas do norte da Europa, recebemos em Matosinhos a habitual e sempre estimada visita de um amigo que percorre a costa portuguesa (e algumas lixeiras) como que à procura das suas “bébés”.



                                               Video - 1:38 min



Peter Rock é conhecido e reconhecido pelo excelente trabalho pioneiro que desenvolve, há muitos anos, com gaivotas que criam nos telhados em vários lugares ao redor de Bristol.

Segundo informação do Peter a primeira reprodução de gaivotas em Bristol foi em 1972, em Gloucester 1967 e em Cardiff 1962. Os dados conhecidos indiciam que o fenómeno das gaivotas que deixaram os habitats tradicionais de nidificação e começaram a criar em ambientes urbanos tem apenas cerca de 50 anos.

Trabalhos similares, com anilhagem de gaivotas reprodutoras em áreas urbanas europeias, tenho conhecimento de apenas um projecto na cidade de Saragoça e outro no norte de África, em Ceutaambos com gaivotas da espécie Larus michahellis (Gaivota-de-patas-amarelas).

Actualmente, os projectos existentes incidem apenas nas espécies Larus michahellis e Larus fuscus. Todavia, enquanto em Saragoça e Ceuta a espécie em estudo seja dominante, no Reino Unido verifica-se uma expansão na gama das espécies cujo cruzamento é viável e temos já registado algumas aves híbridas resultantes do acasalamento de indivíduos Larus fuscus com Larus argentatus. Dada e esterilidade das aves híbridas, estes cruzamento não são ameaças para a integridade das espécies.

Pode é acontecer que alguns dos hábitos das gaivotas se alterem profundamente resultando daí alguma degeneração de comportamentos.
Vou contar uma história:
- No prédio onde eu vivo e noutro vizinho nidificam há vários anos dois casais de gaivotas. Presumo serem sempre os mesmos casais porque, nos primeiros anos quando eu saía para passear com os meus cães, elas grasnavam imenso e faziam voos rasantes muitas vezes dejectando para cima de nós. Depois, deixaram de grasnar e começaram a emitir sons (au, au, au) muito semelhantes a latidos.
Hoje, quando saio com os cães, os pais e até os filhotes, olham para nós e continuam como se não existíssemos.
Por esta mutação de hábitos eu digo que talvez daqui a 300 anos exista uma subespécie não muito diferente das actuais que será designada pelos taxonomistas como Larus fuscus urbanus (brincadeira). Depois, estaremos cá para ver!

A zona costeira de Matosinhos é ponto de referência para algumas das aves anilhadas pelo Peter Rock porque aqui passam parte do inverno ou descansam no rumo para outras paragem.


É curioso que no passado dia 31 de Outubro começamos a fazer observação na Docapesca em Matosinhos, pelas 06H30 (ainda o sol não tinha nascido), e após termos percorrido muitos quilómetros, no final do dia, em Espinho… eureka! Vimos, finalmente, uma gaivota do Peter, a juvenil R[B+F] (Best+Father) nascida neste ano.

Confesso que fiquei sensibilizado pela forma particularmente carinhosa como ele “falou” com esta jovem, por isso, aqui deixo uma foto para memória futura.

Abaixo reproduzo fotos das aves anilhadas/nascidas neste ano registadas nas minhas observações em Matosinhos.



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terça-feira, 1 de novembro de 2016

Larus cachinnans (1st. winter)


Larus cachinnans (1st. winter)

Ca:Gavià caspi - Da:Kaspisk Måge – De:Weisskopfmöwe - En: Caspian Gull - Es:Gaviota del Caspio – Fi:aroharmaalokki - Fr:Goéland pontique - It:Gabbiano reale pontico – Nl:Geelpootmeeuw – No:Kaspimåke – Pt:Gaivota-do-Cáspio - Sv:Kaspisk trut - Ru:Хохотунья

A Gaivota-do-Cáspio (L. cachinnans) é praticamente do mesmo tamanho e tem algumas semelhanças com a Gaivota-de-patas-amarelas (L. michahellis) e a Gaivota-prateada (L. argentatus). Têm sido usados vários nomes para estas aves mas, actualmente a maioria dos taxonomistas parece finalmente ter acordado e hoje é amplamente reconhecida como uma espécie separada.


Habitat e Distribuição
A Gaivota-do-Cáspio é um nidificante continental prefere ambientes dunares, ilhas, lagos estepários  e margens dos rios.
Esta espécie tem a sua origem nas margens do Mar Negro e do Mar Cáspio, espalhando-se para a Ásia Central até ao Nordeste da China. Na Europa também se expandiu para o norte e oeste, vivendo actualmente na Polónia e Alemanha Oriental. Algumas aves migraram para o Mar Vermelho e Golfo Pérsico, enquanto outros se espalharam para países como a Noruega e a Dinamarca. Embora em pequeno número, também são vistos regularmente na Grã-Bretanha, especialmente no sudeste da Inglaterra. É abundante na costa do Mar Cantábrico.


anilha: Y[X175]


Anilhada ainda pinto, em 06.06.2016, nas margens do Lago Grabendorf, Brandengurg
Origem: Alemanha
Projecto: Liderado por Ronald Klein.  
Este individuo foi observado na companhia dos amigos Peter Rock e o Inocêncio Oliveira quando fazia-mos o registo de gaivotas com anilhas coloridas, na Praia da Aguda em V.N.Gaia.

Como estava inserida num grande grupo de juvenis de Gaivotas-de-patas-amarelas e Gaivotas-d'asa-escura, não fora o facto de ser portadora da anilha, provavelmente, a sua presença passaria despercebida.
Como isso não aconteceu, é muito gratificante partilhar a observação desta raridade… em Portugal, claro!

Estatuto em Portugal: Acidental
No espaço geográfico português a ocorrência é considerada uma raridade e a sua observação deve ser registada e homologada pelo CPR-Comité Português de Raridades



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