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Calidris alba
Em 2018 a época de reprodução de aves limícolas na
Gronelândia... é desastrosa!
As alterações climatéricas poderão impossibilitar a
reprodução de aves limícolas no NE da Gronelândia.
No inicío do mês de Julho passado divulguei um alerta com o pedido de ajuda para a contagem dos Pilritos-das-praias (Calidris alba)
na costa portuguesa durante o Outono/Inverno
deste ano.
No artigo publicado no inicio de Julho (leia aqui) Jeroen Reneerkens(*) alertava que a queda excessiva de
neve na Primavera poderia inviabilizar a criação de limícolas no NE da
Gronelândia e solicitava a ajuda para a contagem das aves observadas.
(*) Jeroen Reneerkens da Universidade
Dinamarquesa de Groningen, desde 2003 que estuda anualmente a criação de
Pilritos-das-praias (Calidris alba). Ele desenvolve este trabalho na Estação de Pesquisa Zackenberg (74 ° 28'N 20 ° 34'W) no NE
Groenlândia.
A Península ibérica é um dos destinos
de invernação desta espécie. Os primeiros adultos aparecem no final do mês de
Julho e os primeiros juvenis (se houver) em meados de Agosto. Este ano, podem
surgir uma ou duas semanas mais tarde.
Assim, renovo o pedido solicitando a
colaboração de todos.
Para melhor identificação
(juvenil/adulto) reproduzo aqui o manual que adaptei para o português.
>>><<<
Manual de campo para identificar
Pilrito-das-praias (Calidris alba) e estimar a proporção de juvenis nos
bandos.
Hilger Lemke | John Bowler |
Jeroen Reneerkens . Julho 2013
(foto-1)
Este
manual vai ajudá-lo a distinguir Pilrito-das-praias juvenis de adultos e a ser
capaz de contar as proporções de uns e outros no campo. Este método é muito
eficaz para estimar o sucesso reprodutivo da espécie.
As
características visuais mais importantes de ambas as classes de idade são
mostradas em fotografias e descritas em texto.
No
final deste documento encontrará uma lista de dicas para fazer as contagens no
campo.
Muito
obrigado pela sua ajuda e aproveite!
Para entender e evolução
da população de Pilritos é essencial ter dados sobre a sua sobrevivência e
reprodução.
O sucesso reprodutivo
nas zonas de reprodução do Alto Ártico pode variar consideravelmente de ano
para ano devido a várias circunstâncias nomeadamente aos ciclos de “lemming”
(pequeno roedor, existente na tundra ártica) e à pressão de predação sobre a
espécie.
A estimativa do sucesso
reprodutivo é avaliada melhor nas áreas onde a espécie vai invernar, dado que é
mais fácil identificar a proporção de juvenis dentro dos bandos. No entanto,
devido à imensa zona de invernada dos Pilritos, estimativas confiáveis só podem
ser obtidas quando há muitos observadores, em muitos locais, contando o número
de juvenis dentro dos bandos de forma padronizada e fiável.
Por isto, pedimos a sua
ajuda. No final da temporada, enviaremos os resultados do nosso estudo.
Grupos de penas importantes e
terminologia
Distinguir adulto de
juvenil de Pilritos não é difícil, mas, o observador inexperiente pode necessitar
de um pouco de treino. É importante perceber que tanto adultos como juvenis
estão a mudar as penas durante a época do ano em que estamos interessados em
saber a proporção de ambos os grupos de idade.
Por isso, é importante
reconhecer ambas as idades nas diferentes fases da muda. É muito útil fixar a
sua atenção nos grupos de penas e do seu padrão assim como na coloração e grau
de desgaste para classificar no campo, com fiabilidade, a idade destas aves.
Familiarize-se com os grupos
de penas e a terminologia mencionada na foto 2.
Vamos usá-las para
explicar as principais diferenças entre juvenis e adultos nas próximas páginas.
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(foto-2)
1- identifique as penas da
coroa,
do dorso e pescoço
e as escapulares
2- veja as coberturas de asa e penas de voo (terciárias e as primárias).
Compare esta foto com a foto 4!
Se necessário, também
pode praticar esta topografia em qualquer guia de aves decente.
Características
de muda e plumagem de juvenis e adultos de Pilrito-das-praias (1)
(foto-3)
1-meados de Setembro, GB: Uma espécie, mas
duas classes de idade: a ave à esquerda é um adulto com a típica plumagem de
inverno, enquanto o pássaro à direita é um juvenil com algumas penas do dorso já renovadas.
Principais diferenças entre
juvenis e adultos:
Os juvenis têm a
plumagem muito fresca e cuidada, enquanto as penas dos adultos são (muito) mais
desgastadas em Agosto e Setembro. Os juvenis tendem a ter a parte superior num
padrão axadrezado a preto e branco e, frequentemente, uma tonalidade cremosa na
parte superior do peito e cabeça, quando a plumagem é muito nova.
Adultos e juvenis, começam
ambos a mudar para a plumagem de Inverno a partir de meados de Setembro (pode
variar dependendo da região geográfica), portanto, vai-se complicando a
identificação no campo. Isso
significa que você pode encontrar adultos que mantêm parcialmente a típica
plumagem nupcial (reprodução), bem como juvenis que substituíram já as características
penas de juvenil.
Tanto juvenis como
adultos, mostram mais e melhor as típicas penas cinzentas da plumagem de
inverno na cabeça, manto e coberturas. Portanto, é importante ter em atenção as
plumagens principais da espécie (juvenil, adulta nupcial (reprodução) e adulta
de inverno) para perceber como a muda pode afectar os estágios transitórios.
Entre meados de Setembro
e final de Outubro, é a melhor época para identificar a idade pelo telescópio,
devido à migração e à muda (ver Bibliografia de apoio).
Características
de muda e plumagem de juvenis e adultos de Pilrito-das-praias (2)
Os juvenis geralmente mudam
as penas da cabeça e do corpo. As terciárias e coberturas apenas são mudadas
nos pássaros que invernam nos trópicos.
(foto 4) (foto 5) (foto 6)
(foto 4)- meados de Setembro, Bretanha: plumagem típica antes início da
muda. As penas do manto e escapulares com centros pretos e franjas brancas são
muito distintas. O tom acastanhado no pescoço e no rosto indica uma plumagem
muito recente.
(foto 5)- meados de Setembro, Bretanha: coroa e lateral do pescoço manchado
a preto. Em parte do manto as penas já estão mudadas para a plumagem de
inverno.
(foto 6)- Janeiro, norte da Frísia: juvenil no seu primeiro inverno com
a plumagem do manto, coroa e escapulares mudadas. Só pode ser reconhecida a
idade porque retém as terciárias e cobertura com centros escuros, que ainda não
foram renovadas.
No Inverno, a muda nos
adultos passa pela completa substituição da plumagem de reprodução para a
plumagem de tonalidade branco e cinzento-claro.
(foto 7) (foto
8)
(foto 9)
(foto 7)- meados de Setembro, Bretanha: Mudando da plumagem de
reprodução para a de Inverno. As novas penas cinzas na coroa e escapulares são as
penas da plumagem de inverno. As mais escuras e desgastadas são restos da
plumagem nupcial.
(foto 8)- meados de Setembro, Bretanha:
quase completamente mudado para a plumagem de inverno. Apenas restam muito poucas
penas negras, da plumagem nupcial, na parte superior.
(foto 9)- Janeiro, Frísia do Norte: plumagem de inverno completa com a
típica parte superior acinzentada pouco apelativa e a parte inferior branca e
mais brilhante.
Características
de muda e plumagem de juvenis e adultos de Pilrito-das-praias (3)
(foto
10)
(foto 10)-meados de Setembro,
Bretanha: quantos juvenis vê?
(A
segunda ave da direita (primeiro plano) é um juvenil, os outros são adultos. A juvenil
é reconhecida pelo xadrez escuro nas partes superiores, o enegrecimento da coroa,
rosto e pescoço num padrão sujo. Observe o contraste entre o novo manto/escapulares
e as penas velhas nas coberturas/terciárias, dos adultos.)
(foto
11)
(foto 11)- meados de Setembro, Bretanha: descubra as idades neste grupo!
(Existem apenas juvenis neste grupo. Todos mostram o
típico xadrez preto e branco nas partes superiores e o pescoço manchado na
lateral com um matiz pardo. Observe a aparência global, fresca e “limpa” da
plumagem!).
Trabalhando no campo (1)
(foto
12)
•
Use um telescópio para observar os bandos de Pilrito-das-praias;
• Estime
as idades e conte os pássaros um por um. Uma nota dizendo “450 Pilritos e 10% eram juvenis” não é suficientemente preciso;
• Utilize
algum contador para realizar as contagens ou fichas manuais para registar a sua
contagem;
• É mais
prático se houver uma segunda pessoa a ajudar; enquanto você observa o bando e conta
as aves, o seu amigo anota os resultados;
• Os
juvenis geralmente agrupam-se dentro do bando. Portanto, tente sempre contar o bando
inteiro. Tenha em conta que, se se trata de um bando grande (> 300 Pilritos)
basta contar apenas uma parte. Em todo o caso, é importante saber quantas aves
estavam presentes na área e quantos indivíduos pôde contar. Por exemplo: 1238 Pilritos
contados, dos quais 79 juvenis e 638 adultos.
•
Contar e reconhecer as idades das aves quando paradas é mais fácil do que
quando se estão alimentando com os indivíduos em permanente correria de lado
para lado. Tentá-lo nesta situação causaria duplas contagens e, portanto, dados
não confiáveis. Aguarde o momento certo quando o bando está bem espalhado ou
parado.
Trabalhando no campo (2)
(foto
13)
(foto 13)-Setembro, Bretanha: um pequeno desafio
final:
Quantos juvenis e adultos consegue identificar
neste bando?
(O segundo indivíduo da
esquerda é o único juvenil, reconhecível pelo acastanhado das partes
superiores, pescoço e coroa. Os outros 51 Pilritos são todos adultos, com a
muda progredindo para a plumagem cinza e branca de inverno. Muitos adultos
ainda mostram alguma plumagem antiga, que é predominantemente escura, sem as
franjas largas e brancas, característica dos juvenis.)
<<< >>>
O que precisamos que nos
envie?
1) data, localização exacta
(com coordenadas), teu/vosso nome;
2) total das aves classificadas
por idade
3) total de adultos
4) total de juvenis
5) total das aves
presentes
• Por favor, envie os
dados para Jeroen Reneerkens
(J.W.H.Reneerkens@rug.nl)!
A sua colaboração é muito importante!
• Visite www.waderstudygroup.org para saber mais sobre o Projecto Pilrito-das-praias
do International Wader Study Group (Grupo Internacional para o Estudo das
Limícolas).
Referências:
Bibliografia de apoio:
• The Shorebird Guide; O`Brian, Crossley & Karlson; New York,
2006.
• Shorebirds of the Northern Hemisphere; R. Chandler; London, 2009.
• Guia de Aves-Collin´s Bird Guide
(disponível em vários idiomas); Svensson,
Mullarney & Zetterström, qualquer edição.
• Establishing the right period for estimating juvenile proportions
of wintering Sanderlings via telescope scans in Northern Scotland;
Lemke, Bowler & Reneerkens; Wader Study Group Bulletin 119 (2),
2012.
Fotografias de:
- Jeroen Reneerkens
Fotos:
1,2,3,4,5,7,8,10,11,13
- Hilger Lemke
Fotos:
6,9,12
Agradecimentos:
-A Sebastien Nedellec, María Fernández e Manuel Flores
Lunar, pela tradução do texto para o francês e o espanhol.
-Franziska Lemke ajudou com o design gráfico.
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